O pronto-socorro é a porta de entrada para o sistema de saúde. Em muitos casos, o pronto-socorro é o “sistema” de saúde de grande parte dos brasileiros. Eles não têm acesso a consultas ou acompanhamento, sobrando-lhes apenas o pronto-socorro. Classicamente o atendimento do pronto-socorro no Brasil é dividido conforme a queixas do paciente nas especialidades estabelecidas como clínica médica, cirurgia e pediatria. Quem conhece o funcionamento interno do pronto-socorro conhece como essa divisão é artificial e atrapalha o atendimento. Quem deve atender a dor abdominal, o clínico ou o cirurgião? Quem deve atender a cefaleia, o clínico ou o neurologista? Quem deve atender crianças de 12 a 14 anos de idade, o pediatra ou o clínico? Isto gera inclusive falta de segurança ao cuidado do paciente: quando uma dor no braço é encaminhada ao ortopedista, mas na verdade trata-se de infarto. Nesse cenário desafiador, aparece a Medicina de Emergência.
A complexidade do atendimento de emergência vem crescendo exponencialmente, exigindo a criação de uma especialidade específica da emergência. Esta especialidade vem de encontro aos problemas apontados acima. Ninguém confiaria uma cirurgia cardíaca a um recém-formado. No entanto, na maior parte dos casos, os médicos que atendem em prontos-socorros são recém-formados. Devemos ter alguém bem formado que saiba lidar com uma insuficiência respiratória aguda, uma intoxicação ou então com um infarto do miocárdio. Além disto, os especialistas normalmente não querem fazer carreira em medicina de emergência, e por isto, o pronto-socorro é, via de regra, sempre ocupado por profissionais em início de carreira.
O especialista em Medicina de Emergência atende a pacientes com acometimentos, doenças e lesões que, em geral, não têm diagnóstico prévio e que precisam de atendimento médico imediato. Nesse papel, iniciam investigações ou intervenções para tratar pacientes na fase aguda, como ressuscitação e estabilização hemodinâmica e coordenam para encaminhar o paciente para o cuidado subsequente com o especialista de outras áreas.
O papel do médico emergencista é sempre no departamento de emergência ou pronto-socorro. Não há intenção de ocupar o atendimento preconizado de nenhuma outra especialidade. A partir do momento que o paciente é encaminhado ou internado ou atravessa a porta do centro cirúrgico, o cuidado do paciente é transferido do emergencista para os outros especialistas.
Apesar do espectro do atendimento do emergencista ser grande – do berço ao idoso – a especialidade é focada no agudo.
A entrada do emergencista para o mercado vai elevar a qualidade do atendimento do pronto-socorro e também poderá contribuir para o uso racional de recursos. Em locais com baixa demanda, não haverá necessidade de contratação de um clínico e um pediatra quando um emergencista basta. A entrada do emergencista para a tomada de decisão na gestão pública e privada vai colocar esse ponto de vista em foco.
Neste país o início da medicina de emergência vem tarde em comparação a outros países que já adotaram este modelo há muito mais tempo. Mas por esta mesma razão se beneficiará de tantos exemplos e experiência construída fora.