O supradesnivelamento de segmento ST no ECG é usado para identificar oclusões coronarianas e consequentes infartos transmurais. Esse padrão é usado para determinar elegibilidade de tratamento de IAM com trombolítico e também determina alto risco para que os pacientes devem ser imediatamente levados para a angioplastia.
Emre Aslanger, de Istambul, Turquia, comparou três grupos de pacientes:
(I) 1000 pacientes com diagnóstico de SCA sem supradesnivelamento de segmento ST
(II) 404 pacientes com IAM com supradesnivelamento de segmento ST inferior
(III) 1000 pacientes em que o IAM foi excluído.
No grupo I e III identificaram os pacientes que tinha o seguinte padrão de ECG:
(1) Supra em DIII isolado
(2a) Infra em qualquer derivação de V4 a V6
(2b) Sem infra em V2
(3) ST em V1 mais alto que ST em V2
Todos os pacientes tinham angiografias coronarianas para verificação de oclusão coronária aguda.
O padrão de ECG pré-especificado foi encontrado em 6,3% dos pacientes do grupo I (que foram denonimados grupo IA) e 0,5% dos pacientes no grupo III. Os pacientes sem o ECG pré-especificado do grupo I ficaram como grupo IB.
Comparação angiográfica:
A oclusão coronariana aguda foi encontrada em 69% dos pacientes do grupo II, 25% do grupo IA e 16% do grupo IB. A artéria principal relacionada ao IAM foi a coronária direita no grupo II com 66%, a circunflexa no grupo IA com 50% e a artéria descendente anterior no grupo IB com 33%. Existe uma lesão crítica em 78% dos casos no grupo II (principalmente coronária direita), em 81% dos casos no grupo IA (principalmente circunflexa) e 57% dos casos no grupo IB (principalmente descendente anterior).
Comparação clínica
O Grupo IA tinha pacientes com escores de risco GRACE mais altos, mais velhos e com mais comorbidades do que os pacientes do grupo IB e II. Sabendo disto, os pacientes do grupo IA tinham maiores valores de troponina, maior área de infarto e maior mortalidade intra hospitalar que o grupo IB (5% vs 1%).
O estudo de Aslanger, publicado no Journal of Electrocardiography, traz um exemplo desse ECG. Também é possível encontrá-lo em outros meios e nas redes sociais.
Claramente se trata de um padrão de ECG de alto risco dentre os IAM sem supradesnivelamento de segmento ST. Em pelo menos 50% dos casos foi encontrado uma artéria com oclusão aguda. Na minha interpretação deve ser estratificada como os demais casos de SCA sem supra de Muito Alto risco, portanto, submetidos a um cateterismo urgente (em até 2 horas).
Dr. Julio Marchini é Professor Colaborador de Clínica Médica da FMUSP, Supervisor do Programa de Residência de Medicina de Emergência do HCFMUSP e um dos coordenadores do curso de Medicina de Emergência da USP.